A pesquisa Atlas Urbanístico de Vitória, coordenada pela professora Dra. Flavia Botechia e pelo professor Dr. Heraldo Ferreira Borges desde 2014, tem como objetivo principal a elaboração de um banco de dados sobre os planos urbanísticos elaborados, durante o século XX, para a cidade de Vitória (Espírito Santo, Brasil) e se encontra na intersecção dos campos teóricos da arquitetura, urbanismo, morfologia urbana, arquivologia, memória, patrimônio e das tecnologias da informação.
Por um lado, a pesquisa proposta alicerça suas bases na noção de que é preciso conhecer o passado para compreender o presente e na certeza da necessidade de recorrer aos documentos primários (textuais, iconográficos e cartográficos) para produzir conhecimento. Caminhar pela cidade ou fazer desenhos são meios importantes para se ter uma aproximação à história da cidade, mas nada se compara a ir aos arquivos, consultar os livros, as fotografias e os mapas antigos. A análise arquitetônica e urbanística pode contribuir ao confrontar a descrição de fatos políticos, econômicos, sociais ou ideológicos com, como afirma a Profa. Beatriz Bueno (2009), “[…] a análise dessas fontes visuais falsamente neutras e naturais”. Mas estes documentos históricos, com todo seu instrumental técnico e apesar de todo potencial latente, continua a ser frequentemente utilizado apenas como figura que ilustra um texto (KOSTOF, 2009; ROSSA, 2015).
Por outro lado, a pesquisa também se propõe a incorporar a discussão sobre o impacto das tecnologias de informação, das redes de comunicação e da digitalização de acervos para a conservação, proteção, divulgação e democratização do acesso ao conhecimento, que não é propriedade de um, mas de muitos; é propriedade de uma nação.
Em sua atual fase, o projeto cultural Plataforma Digital interativa – Atlas Urbanístico de Vitória: reprodução do acervo documental e bibliográfico relativo aos planos urbanísticos da cidade de Vitória foi submetido e aprovado no Edital Secult/Funcultura nº 14/2018 -Seleção de projetos culturais e concessão de prêmio para inventário, conservação e reprodução de acervos no Estado do Espírito Santo. Dentro desta perspectiva, tem como objetivo a reprodução digital do acervo documental e bibliográfico relativo aos planos urbanísticos da cidade de Vitória, custodiados no Arquivo Geral Municipal de Vitória, e a sua publicização por meio da criação da plataforma digital interativa que, por sua vez, pode ser descrita como um portal para disponibilização via internet de parte do acervo cartográfico histórico previamente identificado. Como pano de fundo que dá suporte a esta iniciativa, é importante registrar, que além da pesquisa-mãe – Atlas Urbanístico de Vitória – estão às noções de Humanidades Digitais e Ciência Cidadã, embasando ações que visam à utilização de novas tecnologias da informação para promover o acesso digital na íntegra aos documentos.
Posto isto, este banco de dados digital e interativo de acesso público e irrestrito pretende ser uma ferramenta de consulta para que pesquisadores interessados no tema possam produzir novos produtos culturais e científicos, para que a população possa conhecer e valorizar aspectos da história da cidade e, acima de tudo, para que o acervo documental seja preservado garantindo sua salvaguarda. Acredita-se, ainda, que esta plataforma também poderá incentivar e instrumentalizar os processos participativos de planejamento urbano conforme indicado na Lei Federal 10.257/2001 (Estatuto da Cidade) porque saber ler e interpretar um mapa é um dos desejáveis mecanismos de empoderamento e inclusão social.
Com o Edital Secult/Funcultura nº 14/2018 foi possível trabalhar o conteúdo cartográfico de quatro dos treze planos urbanísticos para a cidade de Vitória, a saber: (parte do) Projecto de um Novo Arrabalde (Saturnino de Brito, 1896); Plano Geral da Cidade (Henrique de Novaes, 1917); Plano de Urbanização de Vitória (Henrique de Novaes, 1931/1933) e Planta cadastral da cidade e Plano de Urbanização de Vitória (Empresa de Topografia Urbanização e Construções – ETUC sob a supervisão de Alfred Agache, 1946). Justifica-se esta escolha por se constituir aquela parte do conjunto inventariado na Fase 1 do projeto Atlas Urbanístico que contempla os documentos mais antigos, os mais raros e, acima de tudo, em mais frágil estado de conservação.